sábado, 22 de outubro de 2011

MORADORES DE RUA... UMA CRUEL ESTATÍSTICA



Moradores de rua... Excluídos, esquecidos, invisíveis, drogados, ladrões, bêbados, doentes mentais... Solidão, desprezo... Doentes sociais... Sem rumo, sem casa, sem água, sem comida... Amor e família são palavras mortas, insignificantes, como o próprio nome que muitos ignoram... Afinal essa classe não existe. Moradores de rua são invisíveis!

Hoje, 15 de novembro de 2010, mais um morador de rua é assassinado na cidade Maceió e outro encontra-se hospitalizado, em coma, após agressão nesta madrugada... São 32 mortos e mais um que certamente morrerá...

Qual o problema? É menos um “incômodo” para as pessoas que vão e vem pelas ruas, passam por eles como se não existissem, são invisíveis, desconhecidos, inexistentes... Aliás, existem sim... Agora como um número, uma estatística, das mais horrendas. “Dados do censo do IBGE indicam que Maceió tem 312 moradores de rua, 60 deles são crianças. A Secretaria Municipal de Assistência Social contesta os dados. Os números apontam entre 250 e 300 pessoas. Dos 31 assassinados, 17 eram cadastrados pela secretaria- e considerados moradores de rua.” (Terra, 9/11).

A sociedade pouco ou nada pode fazer, principalmente os que por aqueles arredores vivem ou sobrevivem, ou peregrinam. Segundo o site Terra, 15/11 “No bairro onde houve o crime, ninguém fala sobre o assunto. A polícia ainda investiga as causas do crime, que pode ter relação com o uso de entorpecentes.” O medo, a fome, a dor, o descaso, a falta de estrutura física, social, psicológica, moral são as leis que imperam. A parcela da sociedade que pode fazer algo também pouco ou nada faz... Que fazer ante tanto desgoverno?

“A morte de moradores de rua virou um mistério para as autoridades alagoanas. Na semana passada, o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, disse que as mortes tinham relação com grupos de extermínio comandados por policiais. Uma semana antes desta declaração, o delegado Geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, admitiu a participação de policiais na trama.” (Terra, 15/11).

Evidentemente há muitos bandidos, ladrões e traficantes e todo tipo de mau caráter entre os moradores de rua... Entretanto, nas classes abastadas também há muitos bandidos, ladrões, traficantes e todo tipo de mau caráter, porém com um grande diferencial: dinheiro, “poder”, ternos e gravatas... Comem e bebem do bom e do melhor e usam droga de qualidade, pó de primeira, importado... Quando se envolvem em brigas, matam, roubam ou cometem atos ilícitos têm a família, os “amigos poderosos”, o dinheiro para livrá-los do “mal”, da correção, da cadeia, da “justiça”...

Os moradores de rua não... Estes têm o céu estampado de estrelas como cobertor nas noites, o chão de papelão por colchão e o lixo por alimento... Fazem suas necessidades na rua, não tomam banho, nem trocam de roupa,cheiram mal, cheiram cola nas calçadas e ali mesmo comem, dormem, defecam, fazem sexo...

Moradores de rua não somam votos... São crianças, grávidas, adolescentes, adultos, anciãos, seres humanos de todas as cores, de todos os sexos, de todos os jeitos, vindos não se sabe de onde e indo não se sabe aonde... Todos em situação de extrema miséria, excluídos da sociedade, marginalizados... Não são cidadãos.

“ Pelo mapeamento realizado pela secretaria, a maior concentração de moradores de rua está na parte mais rica da capital: a orla. E 50% deles são do interior ou de outros estados nordestinos, como Pernambuco e Bahia. Ano passado, 100 ganharam casas. Outros 130 foram mandados aos locais onde nasceram.” (Terra,09/11).

Na área rica eles afastam os turistas, denigrem a imagem da cidade, são mandados de volta para seus locais de origem, ganham casa... E o mais? Nunca tiveram um lugar para morar ou sequer uma certidão de nascimento... Não existem! Como saberão o caminho a seguir, sem empregos, viverão do que? Vendem a casa, com o dinheiro comem, bebem ou se drogam por uns meses e novamente começam a peregrinar pelas ruas... Já é um ciclo vicioso, problema de SAÚDE PÚBLICA. Onde estão as políticas sociais? Os direitos humanos? A solidariedade e a fraternidade?

Muitos são filhos da rua, nascem na rua e por ali permanecem como bichos, largados à própria sorte... “Sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos” (Caetano Veloso)... Seres humanos vivendo em situação de extrema miséria... Incomodam pedindo comida, dinheiro para comprar bebida ou cola... São miseráveis que se drogam para esquecer que têm vida, para terem coragem de prosseguir.

"Não há grupos de extermínio em Maceió, temos o cadastro destes moradores, o controle sobre isso. Estamos dobrando a capacidade de um albergue que temos", disse o secretário Municipal de Assistência Social (Terra, 09/11). O mencionado abrigo conta com apenas 50 vagas, mesmo sendo duplicado ainda restarão 212 moradores expostos aos perigos da rua, isto se 312 for o número correto.

Pela situação que observamos pelas ruas, principalmente na área do Mercado Público no bairro da Levada, talvez a realidade seja bem diferente. Maceió é uma cidade com 1.000.000 de habitantes, e Alagoas está entre os estados mais pobres do Brasil. Do jeito que a miséria cresce assustadoramente nesta região do país, creio que os números do IBGE, de acordo com o censo deste ano, serão bastante díspares, haja vista no último desastre natural ocorrido em Alagoas, as enchentes deixaram milhares de desabrigados nas cidades circunvizinhas o que aumentou significativamente o contingente de moradores de rua. É vergonhoso... O estado de Alagoas, só aparece na mídia, só aparece ao mundo como estatística das piores mazelas sociais e agora mais este dado infame...

Certo dia ouvi de um alguém de família bem conceituada, "portador" de diploma de nível superior, bem empregado, bom salário, apartamento próprio na orla, carro do ano e filhos formados, referir-se à um morador de rua da seguinte maneira : “ ... Para que este tipo de gente viver, por que Deus dá vida a um miserável desse que não serve para nada? São uns imundos, nojentos. Não são gente, são escórias...” . Protestei, contestei, mas sei que muitos, em todas as classes sociais pensam assim, infelizmente...

Cada cabeça é um mundo e cada mundo tem sua peculiaridade, mas a vida é sagrada e ninguém tem o direito de tirá-la, muito menos de maneira tão vil, à surdina, na calada da noite, covardemente... Matar pobres indefesos que muitas vezes dormem embriagados, drogados para esquecer a dor, a fome, a tristeza, a solidão... Em que mundo estamos?

  1. “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.” (Bertolt Brecht)

Ceiça Lima

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